Pairas. Pairas por aqui e já não finges que não o fazes, que não me vês, que não te sentes. Baixas a guarda porque por ora estamos sozinhos e porque se a memória não te falha, já não há motivos para não o fazer. Apertas os sapatos e eu não estou a olhar, sabes que eu não estou a olhar e continuas a apertar. Começas a correr e eu continuo a não olhar. Mas agora determinado a não olhar com a força de quem observa um pormenor de agudez filigrânica, num desfocar premeditado de símbolos e sinais que insistem em esbarrar contra mim. E quase que sinto. Mas não olho- até que olho, porque sei que não tenho com que me preocupar, pois não hei-de ver.
Levanto o queixo e tu levantas a moral, pois sabes que só tens de correr em frente, num só caminho, numa só direção, e eu. Eu? Eu tenho que me decidir a calçar. Sorris à revelia como quem vê esperanças e me puxa para as certezas. Passas por mim na segunda volta e eu finjo-me de espantado: "Já começaste a correr?".
Nenhum comentário:
Postar um comentário