terça-feira, 19 de junho de 2007

Sonho de Jude

Jude acordou encostado à parede sem saber bem como.
Jude não se lembra de adormecer. Jude lembra-se de estar a correr descalço numa rua deserta de um filme onde o protagonista é uma máscara. Jude lembra-se de conseguir chegar à máscara com a ponta do dedo indicador. Jude lembra-se do bafo da verdade a gelar-lhe o peito. Jude lembra-se do frio nos pés. Jude lembra-se do fogo a arder numa janela. Jude lembra-se, depois de pensar muito, que foi a mando "deles" que ateou o fogo. Jude não sabe quem são "eles" mas "eles" metem-lhe medo. Jude já se tinha cruzado com "eles" mas "eles" não o tinham manipulado ainda. Jude só agora "os" viu caminhar a seu lado para lhe dizerem uma palavra ao ouvido e lhe mostrarem o Livro escondido pelo sobretudo. Jude não tinha alternativa. Jude sabia que era esse o seu fazer e haver. Jude caminhou pelo trepidar do fogo até uma sala completamente branca e vazia, despida de tempo ou espaço. Jude encontrou o Livro no chão. Jude abriu-o e o arrepio de verdade gelou-lhe o sangue. Jude conseguiu abrir a boca para dizer que não quero a verdade, peço desculpa. Jude afinal não precisa da razão de nada. Jude não quer estar nesta sala branca. Jude tem medo. Jude esquece-se de fechar o livro e as palavras são um vómito a tornar-se nascente a tornar-se poço. Jude tem a enchente de palavras água pelos joelhos. Jude tem a enchente de palavras água pela cintura. Jude tem a enchente de palavras água pelo pescoço. Jude não sabe nadar e começa a engolir palavras para não ser engolido por elas. Jude só quer não ser Jude, deixai-o ser outra coisa qualquer.
Jude foi deixado encostado à parede do quarto com o peso do que podia ter sabido.

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