sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O mundo só é literal nas sombras da caverna

Querido Jude,

Não vejo problema nenhum no Querido nem no Jude nem em mais nenhuma palavra. A palavra é só uma palavra. Não vou nela porque não consigo. É por sabê-lo que não preciso de outra língua nem de espaços mentirosos. Tudo o que eu possa escrever-te é já mentira e impossibilidade. Tudo o que eu possa escrever-te vai perder-se no caminho que faz o sentir até à caneta, o papel até ti, os teus olhos a ti mesmo. Tudo o que te chega é uma ideia vaga, uma gota seca do sangue que corre nas minhas veias. No que eu digo não vem nada porque nada pode vir e ainda bem. Quando achas que leste, achas mal, achas até tudo ao contrário. Leste-te a ti no que adivinhas em mim e em mim projectas o teu medo ou a tua vontade. Não sei porque também as tuas palavras mentem quando as leio em voz alta. Da minha boca saem ao mesmo tempo mentiras em duplicado - as tuas e as minhas. E uma terceira se cria no espaço. Uma forjada nem por ti nem por mim e só pelos dois sem querer nem para isso batalhar. Uma ideia de mentira a que ambos fechamos os olhos porque não queremos ver. No ver esvai-se o sentir e eu e tu queremos sentir sem sentir que o queremos.

Houve um dia que se bastou a si mesmo. Houve um dia em que não precisei de máquina fotográfica nem de cadernos. Houve um dia de olhos bem abertos, mas com diques no que vai dos olhos ao cérebro.

Estar lá e ver muito e tudo com cada centímetro de corpo. É possível.

À Luicq même, le tipique mange thème.
Alice Dakota

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