segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A desejada morte de Sísifo

Carrego às minhas costas uma culpa que não me pertence, uma culpa que me foi emprestada, uma culpa tirada do armário de quem desconheço. Esta culpa é pesada. Carrego-a como quem faz aquilo que tem de fazer mas não percebe porque é que tem de carregar trapos que não são seus. Eu não fiz nada. Se há coisa que eu fiz foi não fazer nada, foi comer o grito e deixá-lo acontecer só na minha barriga, foi sentar-me à espera da minha morte ou de um novo dia. Não tenho culpa se o dia veio. Não me olhes assim, não tenho. O sol surgiu sobre as copas escuras das àrvores e eu não morri. Foi o que fiz: não morri. Que culpa pode haver nisso? Nenhuma. Mas eu carrego-a, uma culpa tricotada por outros para mim porque é mais fácil. Sim, fácil. Deixo aqui a trouxa, está como ma deste. Não sou a aguadeira da culpa. Não fui e não sou. Não posso ser responsabilizada pela noite do outro lado do teu coração. E mereço mais.

O sol já se pôs há tempo suficiente e tu continuas com os olhos no horizonte a fitar a noite. Não vês nas tuas costas o dia a nascer? Estás a perder a hora mágica.

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