sexta-feira, 6 de julho de 2007

como se fosse para isso e nada mais o espaço que se abisma em torno de mim

dantes inventava-te o rosto de que precisava para sentir os pés no chão

construía com palavras as esquinas da tua pele

como um deus preso pela coleira da tua inexistência

e bastava

essa verdade

mas agora a verdade já não são só as palavras cuspidas são o cuspo que nelas vem pousado são o ar com que são empurradas contra a minha pele

a verdade

dois pontos

atrás de mim ergue-se o mapa com as horas e as datas certas dos sítios por que passei

a vermelho a tinta corrigindo curvas erradas

à minha frente tu

nu

na tua mão a chave da janela

estavas à minha espera perguntas

não esperava nada digo

e o silêncio empurrado a golpes pela tua respiração a ferir-me a pele

ou esperava mas como quem não espera

como quem fica

como quem esquece que acredita

tu avanças até mim fingindo fixar o mapa que conheces bem

vens

mesmo que a minha barriga doa e o meu cabelo trema a cada movimento de ar

páras e nada no espaço de ti a mim se atreve

os teus olhos a tua respiração o meu cabelo a minha respiração o teu cabelo os teus olhos os meus olhos os teus olhos os meus olhos

reconheço algumas esquinas como quem relê um poema

e é sentada na ruga da tua pálpebra esquerda que escrevo no mapa

DESCOBRI O ESPAÇO PARA AQUILO QUE ME TINHA PROIBIDO
AFINAL
EU SINTO

depois puxas-me para ti e saltamos pela janela

sem rede

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